A arte de vender o invendável


Imagine você atendendo a porta, dando de cara com uma pessoa que, nos moldes dos mais bem qualificados vendedores de porta em porta, apresenta-lhe um produto inovador, que dá de dez, de mil, de cem mil em produtos de beleza, assinaturas de revista ou tevê a cabo, em monólogo religioso com direito a panfletinho, de oportunidade de fazer faculdade online. Um produto tão especial, mas tão especial que nem mesmo você imaginava o quanto necessitava dele, até esse momento, quando um vendedor bate a sua porta para lhe vender uma raridade: ilusões.

Ludomar Orni, sujeito amargurado, mas agarrado à possibilidade de uma vida menos ferrada, personagem do romance Exercícios Ilusórios, de Osvaldo Rodrigues, não bate literalmente à porta das pessoas, mas vai logo se embrenhando na realidade delas, retocando suas biografias, sem atentar para as consequências do seu intrometimento.  Trata-se de um vendedor peculiar, que se deu por satisfeito de andar ao ritmo de uma realidade rasa, e que tenta se reinventar ao reinventar o outro. Em seu catálogo de produtos disponíveis: ilusões, sonhos e utopias, além de uns e outros badulaques emocionais. Seus clientes – ou alvos – nem sempre estão cientes do que necessitam. Alguns, eu ouso dizer, como reles leitora das ilusões de Ludo, levariam uma vida muito mais simples não tivessem comprado, quase que inconscientemente, os produtos do vendedor em questão.

Exercícios Ilusórios traz um personagem em processo de catarse, que deseja abraçar a felicidade, mas não sabe como ou onde encontrá-la. Engana-se, por mero hábito humano de acreditar que benfeitoria é sempre para o outro, ao acreditar que sua habilidade em vender um produto que não pode ser visto ou tocado seja mais do que a busca pelo proveito próprio. Tudo o que o vendedor pensa vender aos clientes, na verdade vende a si mesmo.

Osvaldo Rodrigues presenteia o leitor com uma história que brinca de leveza, apesar das prepotentes asperezas. Na verdade, o escritor mostra habilidade indiscutível em oferecer metáforas sem que elas sejam apenas citações de antônimos, combinações de sim e não. São metáforas construídas com esmero, com apreço.

Em Exercícios Ilusórios, Osvaldo Rodrigues nos vende, com a maior competência, uma aventura com cenário simples, cotidiano, com o qual nos identificamos de imediato, mas com personagens que se despem, sob a batuta do complexo Ludoman Orni, de suas defesas, e embarcam na viagem de um vendedor que deseja mesmo é comprar seu espaço no mundo.

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