Estúpido Cupido | O musical

Foto: Reprodução
A cada vez que vou ao teatro, aumenta consideravelmente meu afeto por essa vertente artística. Admiro mais e mais aqueles que têm o talento de levar acontecimentos a um palco, chegando ao ponto de contar uma história. Falando em afeto, desta passagem pelo teatro vou guardar o assanhamento considerável da minha memória afetiva por conta da música.

Domingo passado, foi a última apresentação da temporada do espetáculo Estúpido Cupido no Teatro Gazeta, em São Paulo. O musical marca a comemoração de 50 anos de carreira da protagonista, Françoise Forton, o que também inclui a exposição A Incansável Guerreira da Arte.

O repertório do espetáculo é formado por canções que tocavam em todas as festas da minha infância... Desculpem, mas eu avisei: memória afetiva. E parece que a memória não era somente minha. Os presentes vibraram e cantaram junto com os hits dos anos 60 e 70 e de festas da infância e adolescência de muitos deles.

Estúpido Cupido conta a história de Maria Tereza, a Tetê (Françoise Forton), ex-miss que se tornou uma atriz de sucesso e apresentadora de programa de tevê, que é convencida por sua amiga Ana Maria (Clarisse Derzié Luz) a ir a um baile de reencontro dos amigos do colégio. Esse baile traz trilha sonora e figurino da época do colégio, quando as paixões eram urgentes e o futuro cabia no final de semana.



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A leveza de Estúpido Cupido é ingrediente necessário para visitar o passado. O que me ganhou foi o “antes e depois” da biografia dos personagens acontecendo ali mesmo, no palco. Enquanto a versão atual dos personagens - ainda que esbarrando em levezas - desfiavam questões que ganham importância e urgência somente com o passar do tempo, com a experiência adquirida, como alegrias e tristezas da carreira e do casamento, por exemplo, a versão da época do colégio, muito mais apaixonada e apaixonante, apesar de tão escolada em desfiar uma e outra crueldade, circula pelo mesmo palco, promovendo um flashback ao vivo e conversas entre as versões de um mesmo personagem.

Colocar no mesmo palco as versões da época do colégio e atuais dos personagens foi uma ótima forma de se ligar o passado ao presente, de se desnudar aquela percepção melhorada que a nostalgia, às vezes, nos leva a abraçar. Nem tudo que vem de lá, do passado, chega ao presente na versão original. Não somos apenas nós que mudamos... A forma como nos lembramos de algumas passagens de nossa vida também sofre transformação. É isso que Tetê entende ao reencontrar sua paixão da época de colégio.

Interessante também foi mencionar, de forma realmente espirituosa, ingredientes do universo tecnológico – que quem não curte e compartilha não tem festa de arromba -, que assim como as pessoas, e principalmente por conta delas, o mundo também muda.

Quando nesse cenário, pincelado com músicas tão agradáveis, às vezes até pueris, inclui-se uma jovem fã de Annita, Daniele (Carla Diaz), observa-se, então, as diferenças entre o que era popular nos anos 60 e 70 e o que é popular em 2016. Obviamente, trata-se de um filão cultural, tanto de uma época quanto da outra. Uma citação de uma variedade de estilos. Mais do que isso, travou-se uma comparação comportamental inevitável, que levou o público a desfrutar com mais gosto do humor que o espetáculo oferecia.

Estúpido Cupido é um musical de celebração da carreira de Françoise Forton, mas também uma revisitação. Maria Teresa, a Tetê do espetáculo, foi o personagem que a atriz interpretou na novela homônima de Mário Prata, sucesso nos anos 70. Porém, a referência ao folhetim para por aí. A Tetê do musical tem história própria.

Essa passagem pelo teatro foi agradável, com direito ao assanhamento de boas memórias. Se a ideia de Françoise Forton era levar ao palco o encontro entre a ingenuidade de uma época e as intempéries de outra, podemos dizer que Estúpido Cupido cumpriu seu papel.

Celebrar uma carreira de personagens marcantes, como Tetê, rendeu ao público um ótimo espetáculo.Sendo assim, caso o espetáculo aporte na sua região, aproveite e embarque, que Estúpido Cupido é um agrado dos bons.  

FICHA TÉCNICA
Ficha Técnica
Texto: Flávio Marinho
Direção: Gilberto Garwronski
Elenco: Françoise Forton, Luciano Szafir, Clarisse Derzié Luz, Renato Rabelo, Sheila Matos, Carla Diaz, Luísa Viotti, Júlia Guerra, Ryene Chermont, Ricardo Knupp e Mateus Penna Firme
Direção Musical: Liliane Secco
Coreografia: Mabel Tude
Cenários e Figurinos: Clívia Cohen

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