O mestre do Samba

A gente pensa que sabe sobre uma série de coisas que apenas conhecemos porque fazem parte da nossa cultura, mas se trata apenas do bom e velho “conhecemos por nome”, não por conteúdo, o que geralmente nos permite conhecer o assunto pelas bordas. Portanto, é preciso um olhar mais atento, certa proximidade para realmente compreender a importância desse fragmento que complementa o cenário geral do que acontece no nosso país.

Na semana passada, assisti a um workshop no IBVF, destinado a mostrar aos presentes como funciona o curso Instrumentos do Samba. E foi tão interessante que cairia bem aos que não tocam um instrumento ou pretendem aprender a tocá-lo. Caberia perfeitamente no aprendizado dos que, por serem brasileiros, interessam-se pela História cultural do nosso país.

O workshop foi ministrado pelo percussionista Julio Cesar, pessoa tão talentosa que, fácil, fácil, faz o coração da gente bater ao ritmo dos tamborins. Ele não é apenas um músico exemplar, mas também um profundo conhecedor do Samba, tendo como educador nessa matéria o pai, o grande Osvaldinho da Cuíca.


Julio Cesar Grupo no Batuka! Brasil 2009

Primeiramente, Julio fez com que os presentes sentissem a pulsação. Se para tudo o que fazemos nessa vida é preciso cadência, imagine para a música, uma dependente completa da capacidade do músico de interpretá-la com suas nuances. E enquanto marcávamos essa cadência, com os pés, como que caminhando pela música, ele nos deu uma aula sobre os instrumentos usados na interpretação do Samba, seja nos grupos, nas rodas de Samba ou nas baterias de escolas de Samba.

Aliás, foi justamente ao gosto do carnaval que o workshop seguiu em frente. A cada participante ele delegou um dos instrumentos: caixas, surdos, tamborins, ganzás e chocalho de platinela (rocar). Aos poucos, e com muita paciência - porque havia pessoas ali que nunca tinham sequer empunhado um daqueles instrumentos, o que dirá de tocá-lo -, ele começou a incluir os instrumentos em uma peça de percussão, explicando como os surdos eram tocados, como as caixas soavam, onde entravam os ganzás e os tamborins de algumas escolas de samba.


No Batuka! Brasil 2009

Eu confesso que estava um tanto apreensiva por ter ficado com o chocalho de platinela. Nunca fui muito boa com o ganzá, e esse modelo me parecia ainda mais assustador. Mas acontece que para ser mestre é preciso sabedoria. E o Julio, o mestre da vez, conseguiu coordenar a todos, mantendo a confiança necessária para o simples que cabe no início de todo aprendizado. Ele nos mostrou que, apesar de não sabermos nada sobre estes instrumentos, somos capazes de aprender a lidar com eles e a fazer música. Sendo assim, mesmo errando o passo, com frequência, senti-me participante, atuante nessa aula, como todos os presentes, o que é muito positivo quando se trata de adquirir conhecimento.

Por exemplo, o workshop me deu embasamento suficiente para escrever este artigo. Posso dizer, com toda certeza, que hoje sei um pouco mais sobre o Samba. Porque, enquanto nos ensinava a tocar os instrumentos, o Julio nos dava uma aula tão importante quanto: a origem do Samba, o perfil dele, de acordo com a região, as modificações nos instrumentos, com o avanço da tecnologia. E um dos pontos altos desse workshop foi a demonstração das diferenças na interpretação da bateria de diversas escolas de samba, um assunto fascinante.


Trecho do workshop no IBVF

Julio Cesar é tão apaixonado pela música, pela percussão, que acaba contagiando a todos. Ele é um instrumentista como poucos, com uma capacidade fantástica de brincar com a dinâmica, de perceber a sonoridade que cabe em cada música. Além do mais, é um ótimo mestre.

Se você tem algum interesse em aprender a tocar percussão brasileira, o curso Instrumentos do Samba está com inscrições abertas. Uma nova classe deve começar no dia 14 de março, e conta com até 6 alunos. Para solicitar informações sobre o curso: cursos@ibvf.com.br. Para saber um pouco mais sobre o Julio Cesar: www.ibvf.com.br/juliocesar.htm.


Fotos © Thiago Figueiredo

Comentários