Quatro Minutos


Hoje passarei na locadora. Quem sabe, depois de alguns pedidos, eles já tenham recebido o filme que desejo assistir novamente. Não... Ele não é nada fácil de digerir, porém tem aquela beleza bruta que toda dolência oferece. E a gente se apaixona justo por aqueles momentos em que as personagens principais se rendem ao afeto que nasce entre elas, apesar da relutância, das suas biografias desgrenhadas.

Assisti Quatro Minutos num canal de TV a cabo, há alguns meses. Vier Minuten (2006 | Chris Kraus), nome de batismo do dito, ele que é oriundo da Alemanha, fala sobre duas mulheres: uma jovem, brincado de cabra-cega com vida à beira do abismo, e uma já senhora, com a história de vida embrenhada nas rugas que enfeitam a sua feição dura.

Nada na vida dessas mulheres remete à leveza. O filme se passa, quase inteiro, dentro de uma prisão feminina, na qual Traude Krüger (Monica Bleibtreu) leciona piano e Jenny von Loeben (Hannah Herzsprung), um talento musical voraz, cumpre pena por assassinato.


É justamente a música que consegue nos lembrar da humanidade dessas pessoas envolvidas com seus crimes, suas carências, a autoria de vidas desamparadas. O piano na sala de concreto fria, à mercê da realidade; os dedos de Jenny dançando ora rasteiros ora lânguidos pelo piano, enfrentando a austeridade da professora. Em alguns momentos, torcemos para elas se dispam das suas reservas, das tolas proteções, e demonstrem um pouco que seja de carinho uma pela outra. Não que o carinho não exista.

Belíssimo filme, com duas atrizes fantásticas, e uma cena final que me deixou muito emocionada. Só gostaria de saber se é a própria Hannah Herzsprung quem toca o piano. As cenas dela ao piano são um misto de exuberância, raiva, ritmo e paixão.


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