Pina: poesia na tela
Publicado originalmente no site
Crônica do Dia, em 02/05/12
Sim, eu sou fã de carteirinha de Wim Wenders, desde que assisti o belo Asas do Desejo (Der Himmel über Berlin/1987) e descobri que o roteirista e diretor tinha uma visão deveras interessante sobre anjos. Para quem não assistiu a esse filme, saiba que ele não é a versão alemã de Cidade dos Anjos (City of Angels/1998). Na verdade, o americano foi adaptado a partir do alemão, e por mais que eu ache lindo o filme com Nicolas Cage e Meg Ryan, tendo o próprio Wim Wenders como coroteirista, Asas do Desejo é imbatível com a sua poesia e o ritmo que, em determinado momento, é definido pela participação de Nick Cave.
Sim, eu sou apaixonada por Wim Wenders, mas ainda assim, não esperava a viagem que fiz ao assistir o seu filme, ainda em cartaz aqui no Brasil. Na verdade, por se tratar de um documentário, eu esperava um filme bem diferente. O que eu não esperava era um poema na tela.
Pina (2011) é um filme sobre a dançarina e coreógrafa alemã Pina Bausch, também amiga de longa data de Wenders. Ela faleceu em 2009, pouco antes do início do documentário. Ele pensou em parar o projeto, mas decidiu dar continuidade, utilizando, além de imagens dos espetáculos Le Sacre du Printemps (1975), Kontakthof (1978), Café Muller (1978), eVollmond (2006), declarações dos bailarinos da companhia Tanztheater Wuppertal Pina Bausch sobre a coreógrafa.
Wenders, como foi divulgado, inaugurou a era do filme de arte em 3D com Pina. Particularmente, 3D não me agrada, porém não consigo imaginar não se ter essa experiência com este filme, porque é justamente a proximidade que essa linguagem cinematográfica oferece que nos permite mergulhar no que o diretor/roteirista quer nos mostrar, como se quisesse que alcançássemos certa intimidade com a pessoa por detrás da coreógrafa.
As coreografias de Pina são impactantes, parecem palavras ditas e com a poesia na ponta da língua. Os movimentos dos bailarinos nos remetem a cenários imaginários, mas também ganham as ruas de Wuppertal, cidade belíssima onde Pina viveu e desenvolveu seu trabalho por 35 anos.
Pina é um filme sedutor, faz com que o espectador deslize nas matizes das coreografias, na energia dos bailarinos, na melancolia do que eles têm a dizer sobre a coreógrafa. Para ela, mais importante do que a dança era qual sentimento levava o bailarino a dar o tom a ela.
Wenders conseguiu homenagear essa talentosa mulher de uma forma como poucos conseguiriam. Ele fez a dança virar cinema, o que não é fácil, mas não parou por aí. Wenders fez, mais uma vez, o cinema virar poesia.
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