O Autor | Quando desejar não é suficiente
Quem é o autor?
Em O autor (El autor/2017), o desejo de se tornar um
escritor de obras de valor literário inquestionável se opõe à possibilidade de
alcançar o título de autor de best-seller. O desejo é legítimo, mas há um
problema: a falta de criatividade.
Álvaro (Javier Gutiérrez) trabalha em um escritório contábil, lidando
com a burocracia e uma realidade monótona. Enquanto isso, sua esposa desfruta
do prêmio que recebeu pelo livro que escreveu. Ele a apoia, mas considera uma
obra ruim, sem qualquer valor para o cenário literário.
Após descobrir a traição da esposa, Álvaro muda de casa e assume sua
paixão pela literatura, comprometendo-se a trazer ao mundo uma obra digna de
ser celebrada, independentemente de prêmios. Ele não quer ser autor de
best-seller, mas sim de um romance que seja dos melhores já escritos.
Quando falta criatividade e sobra
realidade
Juan (Antonio de la Torre) é professor do curso de escrita frequentado
por Álvaro. Ele não acredita no talento do aluno, mas se propõe a ser
contratado para ler o que ele escreve e fazer suas considerações. O grande
problema é que o futuro escritor não compreende com clareza as dicas que o
mentor oferece, colocando-as em prática de maneira questionável.
Incapacidade de acessar a criatividade própria
Dedicado a cumprir seu projeto de criar uma obra que mudará o cenário
literário, o autor não percebe que não é muito criativo para a literatura, e se
mostra um ótimo autor de tramas. É nas histórias de seus companheiros de prédio
que ele busca a tal criatividade.
Álvaro consegue informações cruciais, sobre os outros moradores do
prédio, com a esposa do zelador, com quem inicia um relacionamento, apenas para
manter a fonte. Ele passa a manipular
cada um deles, até que a história deles caiba na sua obra.
O autor, em alguns momentos, levará o espectador a rir do personagem e de
si mesmo. Porém, o tema se aprofunda em questões mais complexas do que
reproduzir a excentricidade de uma pessoa, apenas para conferir se ela funciona
no próprio contexto.
Dirigido por Manuel Martín Cuenca, que também assina a coautoria do
roteiro, junto com Alejandro Hernández, a construção da trama merece crédito. A
transformação de Álvaro segue um rumo inesperado, levando a um final em que o
espectador pode até duvidar, mas não há como negar que Álvaro encontrou uma
forma de aplicar sua criatividade. O filme aborda o comportamento daquele que
deseja desempenhar um papel para o qual não tem talento, mas que, durante a
jornada pela busca do sucesso, descobre no que realmente é hábil, o que nem
sempre é melhor.
O autor é um filme irreverente, provocador, que mostra como é fácil cairmos nas
próprias armadilhas. Você vai se divertir e se espantar com a trajetória de
Álvaro. Confira e depois me conte. 😉
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