PEG PAG alfineta a acomodação
Depois de anos acompanhando sua trajetória como autor de histórias infantis e juvenis, Alonso publicou, em 2022, seu primeiro romance adulto.
PEG PAG conta a história de Rubem Glück, personagem criado com referências do próprio Alonso: escritor de literatura juvenil, incapaz de criar vilões em suas histórias. A apresentação remete às tramas já criadas pelo autor, ainda assim, a obra traz um personagem catalisador de situações muito mais complexas do que as enfrentadas por aqueles que se aventuram em sua literatura infantil e juvenil.
Penso em Rubem como um ponto de convergência entre as divergências. Na literatura, ele é reconhecido e celebrado. Na vida pessoal, lida com um transtorno que teme ser descoberto: incapaz de fazer as próprias compras, rouba os carrinhos de outros clientes quando eles se distraem. Paga por elas, mas sempre em dinheiro, afinal, trata-se de um furto, melhor não ser descoberto.
A dificuldade de escolher produtos nas prateleiras de supermercado se estende a outros aspectos de sua vida, criando a condição ideal para ser levado pelas situações geradas ao furtar o carrinho de Emily de Cheshire.
O leitor pode achar muito interessante a ideia de um verdadeiro caos se estabelecer a partir de algo tão simples. Mas bastará alguns segundos de reflexão para alcançar a realidade: é assim que a vida acontece, para o bem ou para o mal.
A partir do furto do carrinho de Emily, a história de Rubem se desdobra de forma tão inusitada e dinâmica que não há como evitar a delícia das ironias tecidas por Alonso, assim como humor trabalhando para explicitar questões importantes. Tem amor à primeira vista, seguido por desespero, conspirações, acontecimentos improváveis – mas que cabem perfeitamente na biografia de Rubem – e referências a eventos atuais relacionados à ciência, religião e política, que andam deixando a humanidade sem saber para qual lado correr. Talvez neste ponto more a ironia mais significativa da obra. Quando o leitor perceber a trama na qual Rubem se envolve, sem ter escolhido diretamente participar dela, talvez se dê conta das situações observadas à distância, com certa indiferença ou dedicação abusiva, que deveriam ser tratadas com parcialidade e responsabilidade.
PEG PAG é ousado na sua concepção. A rapidez ao desenrolar da trama em nada afeta a sua profundidade. Trata-se de um alfinetar a acomodação do leitor ao convidá-lo a caminhar no ritmo mais acelerado imposto a Rubem Glück, porque há urgência em reavaliar o que não deveria ser naturalizado.
Ler este livro aumentou meu desejo de dedicação ao meio-termo, ao diálogo, ao tentar entender o que é melhor para todos, não somente para alguns. “Distopia ou utopia?”, questionamento estampado na quarta capa do livro, faz jus aos acontecimentos relatados na trama.
Sugiro ao leitor conferir o PEG PAG e decidir qual é a resposta.
PEG PAG
Alonso Alvarez
Editora Iluminuras
1ª edição (2022)
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