KARMENTO | Potência e sutileza

© Divulgação

Cheguei ao local sem ter ideia do show que assistiria, o que não é raro no meu relacionamento com a música; o risco é sempre uma oportunidade de encontrar algo diferente e apreciável.

O convite veio da Tatiana Barros, uma amiga que fazia parte da produção do evento. Ela garantiu que a cantora era fantástica, e eu acreditei nisso. No entanto, o gostar é sempre um mistério. Podemos achar o trabalho de um artista impecável na execução e nem por isso gostarmos da obra em si. Além disso, minha semana havia sido bagunçada, e não havia conseguido sequer conferir o trabalho da artista na Internet.

O show era da turnê La Serrana, do álbum mais recente da cantora, compositora e instrumentista, e aconteceu no auditório do Sesc Vila Mariana. Minha expectativa era de um bom show, a julgar pelo entusiasmo da minha amiga, com quem divido afinidades musicais, e o interesse em conhecer a música de uma artista espanhola, assim, logo ali no palco. 

Os músicos da banda entraram primeiro: Emilio Abengoza (piano elétrico), Alvany Guedez Ceballos (violino) e Rosi Herreros Valiente (percuteria). Karmento veio logo depois, já mostrando a beleza de sua voz e, então, assumindo o violão. Foi assim, de pronto, que me dei conta de que a expectativa que me acompanhou até aquele auditório não correspondia a experiência de estar lá.

© Joshua Wolf (Sesc)

A música de Karmento preencheu o auditório, mas também invadiu o dentro das pessoas que estavam lá para vê-la. E vê-la foi algo muito especial, porque a música – preenchedora de auditório e do dentro de pessoas – parecia também habitar o corpo dela, que respondia de maneira que só estando lá para compreender. Era como se som e imagem se fundissem em uma bela coreografia. Mas, por favor, não se sintam excluídos. Procurem apresentações ao vivo dela na internet, para terem uma ideia do que digo, e garantirem que, havendo a oportunidade, vocês não perderão a próxima apresentação dela no Brasil. 

© Joshua Wolf (Sesc)

Os arranjos me levaram a navegar em sutilezas, camadas orquestradas pela interação entre os integrantes da banda e pela potência da voz a guiar dinâmicas. A presença de palco de Karmento era uma combinação de tempestade e elegância, gestos que respondiam, de forma muito peculiar, à música. Em alguns momentos da apresentação, o ritmo das castanholas, tocadas por Karmento, pontuavam a intensidade. 

Karmento nasceu em La Mancha. Sua arte tem como base o mundo rural e folclórico da Espanha. Suas composições autorais, muitas sobre a vida das mulheres de sua região, a levaram a se tornar uma das principais artistas do neofolclore espanhol. Também é pedagoga e sexóloga. Artista extraordinária, ao revisitar a música folclórica de onde nasceu, ofereceu ao cenário musical uma modernidade que equilibra requinte e vigor. Assistir ao show La Serrana foi uma experiência e tanto. Lembrou-me de como a música pode nos aproximar de nós mesmos, e de como é incrível quando uma pessoa oferece aos presentes a verdade de sua arte.

© Joshua Wolf (Sesc)


  • Clique aqui para escutar o álbum La Serrana no Spotify.
  • Karmento
    Facebook e Instagram: @lakarmento
    YouTube: @karmento



Comentários